segunda-feira, 15 de novembro de 2010

Governadores mais ricos comandam regiões mais pobres

É o tipo de notícia que não deveria surpreender ninguém. O governador mais rico do Brasil é Teotônio Vilela Filho (PSDB), de Alagoas com patrimônio pessoal de mais de R$14milhões. Roseana Sarney (PMDB), do Maranhão lidera outra lista, a das maiores evoluções patrimoniais com crescimento de 4.437,90% de sua riqueza nos últimos quatro anos. E olha que o papai nem morreu ainda, prepare-se para ver esse número crescer muito.

Alagoas e Maranhão são respectivamente o 25o e o 26o estados em PIB per capta pelo IBGE e estão nas duas últimas posições do ranking nacional de IDH. Pense nisso.

domingo, 25 de janeiro de 2009

Você precisa de mais?



Curta metragem THE BLACK HOLE criado por Olly Williams e Phill Sampson.

domingo, 18 de janeiro de 2009

O que estamos fazendo

Se você leu Mil Novecentos e Oitenta e Quatro eu entendo que é desnecessário dar qualquer tipo de explicação sobre as razões pelas quais este lugar existe. Se você não leu o livro de Orwell vai ter alguma dificuldade em entender a motivação que existe por trás deste lugar.

Entretanto existe algum tipo de background que você pode ter que ajudaria a entender mais rápido nossos motivos para escrever um blog com a temática escolhida para o Impessoas. Vamos falar desse background e de outras coisas que você pode ler ou ver além de George Orwell para entender o conceito e, mais importante, a mensagem que está aqui para ser entendida.

Mas antes de chegar a isso preciso pontuar umas coisas para que possamos “falar a mesma língua”.

A primeira coisa que precisa ficar claro é que não somos pessoas comuns. Daí o nome deste blog ser Impessoas. No livro de Orwell, Mil Novecentos e Oitenta e Quatro, impessoas são aqueles que se comportavam de maneira inadequada sob a ótica do sistema e por isso eram mortas. Na distopia criada pelo autor esses indivíduos, eliminados pela “Polícia do Pensamento” eram vaporizados e todos os traços de sua existência apagados para sempre. Elas tornavam-se então, impessoas. Não pessoas que não existiam mais, mas pessoas que nunca haviam existido. Pois já que ninguém lembrava-se delas e não havia qualquer traço oficial de sua existência, elas jamais haviam sido pessoas. Eram, ato contínuo, impessoas tanto quanto algo que não é provável possa ser improvável.

Permeiam os escritos de Orwell, seja em 1984 (chamarei assim o livro por mera comodidade) ou em A Revolução dos Bichos, uma lógica interessante que é aplicada tanto às idéias quanto aos próprios personagens. As idéias são ou não são algo; sendo automaticamente manipuladas quando sua comprovação não é possível. Eis o conceito por trás das mentiras que viram verdade para virarem mentira de novo do Ingsoc, ou do roubo de idéias de Bola-de-Neve efetuado por Napoleão em A revolução dos Bichos. Enquanto muitos leitores e críticos entendem as críticas de Orwell como fundamentalmente políticas e, mais, voltadas contra o Comunismo Soviético de Stálin, elas são muito mais que isso.

A repressão sexual, da luxúria e da indulgência, bem como a ostentação de dogmas que não podem ser desafiados são traços típicos da religião. E ainda que muito presentes nos regimes políticos atuais, em todos eles; foram herdados dos cultos religiosos. Isso é muito fácil de constatar já que nenhum dos regimes político-sociais hoje vigentes no mundo tem mais de 200 anos de constituição ou consolidação enquanto que as três religiões mais praticadas no eixo composto pela América, pela Europa e pelo Mediterrâneo possuem escritos que ultrapassam os 800 anos. A religião é também a primeira ferramenta de manobra de massa usada com veemência para a guerra. E os políticos aprenderam rápido com os pregadores a substituir livros por bandeiras para levar seus jovens para as guerras que moldaram os contornos geopolíticos do mundo contemporâneo.

É a guerra o instrumento pelo qual o controle é estabelecido em 1984, o livro, e no século XX, a realidade. Por ser a guerra a herdeira do legado da religião na forma de controle das mentes humanas que o texto de Orwell não pode ser visto apenas como uma crítica política. E por estabelecer esse raciocínio fecho o primeiro ponto que faço, o de que não somos pessoas comuns, pois identificamos, diferentemente da maioria, as ferramentas e o modo com o qual um grupo de seres humanos executa controle sobre outro. Espante-se se quiser, mas o número de pessoas que fazem isso com habilidade é muito pequeno. É, na verdade, minúsculo se comparado ao número de pessoas que votam em uma final de Big Brother, o programa de TV-realidade famoso no mundo todo que, inequivocamente, empresta o nome do líder supremo do Ingsoc de 1984.

A segunda coisa que precisa ficar clara é que não sou uma pessoa comum. E este item não deve ser confundido com o anterior, especialmente porque está no singular. Aqui preciso falar apenas por mim, porque a motivação é estritamente religiosa. Mesmo antes de assistir Zeitgeist eu já havia recolhido informação necessária para desmascarar o mito cristão fundamental. A páscoa é um feriado essencialmente pagão e não consigo entender como o costume europeu de fazer pêssankas não denunciou as origens pré-cristãs do feriado à maioria dos católicos praticantes. De todo modo, tendo sido criado dentro de uma sociedade predominantemente cristã-católica eu, ao procurar entender como as coisas são de fato, teria que tornar-me ateu.

E o ateísmo foi uma simplificação muito bem recebida e que veio a calhar. Tentando entender como um deus onipotente e onisciente como Javé pode ser tão prepotente e ausente ao mesmo tempo eu ficava em um beco sem saída. Representa Javé uma igreja agressiva e opressora que praticamente define o conceito de Idade Média dando poder à tiranos, ajudando na cobrança de tributos e queimando livros. Constatar isso me dava duas hipóteses: ou Javé é um sádico ou não existe. Sádico porque seu representante oficial, o Papa, além de piloto da inquisição era, muitas vezes, ele mesmo o ditador supremo tendo coroado vários reis que seguiam sua cartilha. Foi sob a tutela do sumo pontífice que guerras sangrentas foram travadas e a imperdoável Cruzada das Crianças foi feita. Não existe total certeza sobre se a cruzada realmente ocorreu ou se seus integrantes eram mesmo crianças. Mas é interessante ver o emprenho, especialmente entre historiadores católicos, em demonstrar que não existem textos ou provas totalmente confiáveis de que ela realmente existiu. Como se houvessem provas confiáveis de que uma virgem teria dado à luz um menino capaz de andar sobre as águas. O que interessa é notar que Javé, ao endossar seu Papa deixando-o vivo e no poder, assina sua confissão de deus sanguinário, fazendo jus a reputação criada pelo Velho Testamento.

Para certificar-me de que você entende o que estou dizendo Javé é o nome do deus cristão-católico, pai de Jesus Cristo e cujo representante na terra é o Papa Bento XVI atualmente. E se você não sabia que seu nome era Javé é porque uma das muitas alterações (adulterações de fato) dos textos que formam a bíblia é a troca do nome dele, Javé, pela palavra deus. O objetivo da troca é tornar a pronuncia da palavra a invocação do próprio. Assim como não falamos palha de aço ou fotocópia, de forma inversa também não falamos Javé. Bom Brill, Xerox e (o genérico neste caso) Deus são marcas que substituíram o produto original. A forma correta de designar o deus católico a quem o Papa responde seria então Javé ou deus Javé. E você pode substituir Javé por Zeus para entender a simplicidade do mecanismo.

O livro Deus um Delírio de Richard Dawkins ressalta muito bem essa questão da troca do nome e do desejo de sangue de Javé e eu recomendo a leitura para todos aqueles que queiram entender um pouco melhor o papel do cristianismo na sociedade. Contudo, o que importa é que se você é católico, judeu, espírita, ou de outra corrente cristã o seu deus é um cara um pouco perturbado. Na bíblia, e principalmente no Velho Testamento, acontece de tudo. E as pessoas religiosas, elas próprias, normalmente criticam o Velho Testamento, suas traduções incorretas, e citam o Novo Testamento como um evangelho mais Cristão. Todos esses aspectos são forte indício de que este livro não contém mais verdades do que os próprios 1984, Deus um delírio ou Freakonomics.

Mas muitas, muitas pessoas no mundo todo insistem em levar um livro muito a sério, tão a sério a ponto de matar por ele. É esse tipo de insanidade a marca principal da religião. Incapazes de prover argumentos que expliquem suas convicções pessoas devotas apresentam traços típicos de desvios psicológicos. Traços que normalmente (i.e. quando não religiosos) são vistos como sintomas de doenças, como a negação exacerbada, mania de perseguição, vozes e visões, criação de estórias fantasiosas e argumentos infundamentados, e outros. Note que o artigo da Wikipedia que citei acima para Deus um delírio possui, ao contrário da maioria dos artigos lá existentes, apenas uma seção de críticas. Além disso ele cita diversos opositores e críticos do autor e nada sobre sua biografia ou suas credenciais para falar sobre o assunto. Isso é típico da religião, que atacou e matou diversos pensadores proeminentes por vários séculos quando estes se opunham à suas maluquices sem sentido.

Ora, se alguém saísse nas ruas de um país do oriente médio matando pessoas pelo que lera nas páginas de uma revista Playboy todos concordaríamos que essa pessoa tem graves problemas. Mas isso acontece todos os dias com pessoas que leram o Alcorão, a Bíblia ou algum outro livro religioso, e toleramos isso, de uma forma assustadora. Por sua inabilidade em impedir que cometam atrocidades em seu nome eu sempre tive sérios problemas com os deuses. Mas devo admitir que Javé e Alá são campeões. De todo modo a compreensão de que a hipótese de deus existir é descartável e que nada muda após isso, tornou tudo mais simples. Faz com que o mundo em que vivemos seja produto único da ação humana. Sou diferente da maioria porque deixo definitivamente deus fora dos nossos problemas mundanos, percebendo que ele não existe. Não peço para que eles interfiram na minha vida, no meu trabalho, no futebol, na loteria nem em nada disso, porque entendo que eles não estão lá. Não há ninguém lá para escutar uma prece minha, então não perderei tempo com isso. Vou conseguir um aumento se eu trabalhar bastante e bem e não se eu apenas rezar. Vamos concertar os problemas do mundo agindo e não rezando.

Entendo que esse segundo ponto afastará muitas pessoas que poderiam continuar a leitura pulando do primeiro para o terceiro (e próximo) ponto. Isso era meu desejo inicial e trabalhei até aqui para alcançar esse afastamento. Pessoas muito religiosas não mudam o mundo, ao menos não para melhor. Gandhi, Lenon e Mandela não mudaram o mundo conclamando os seus a rezarem. O fizeram conclamando os seus a pensarem e agirem, de forma política. E mesmo Gandhi, o mais propenso dos três a flertar com a religiosidade e com a idéia de um deus pessoal, era um ativista político pleno, não violento, cujas colocações religiosas eram, quase sempre, mero instrumento dialético para acessar aqueles que deveriam receber a mensagem.

Gandhi era contra a divisão entre hindus e muçulmanos que afetava a sociedade da Índia sendo defensor da idéia de que todos deveriam conviver em harmonia independente de suas crenças religiosas. Entretanto a Índia cedeu território para a criação de um estado muçulmano chamado Paquistão. Gandhi viria a ser assassinado pouco depois por um hindu radical que acusava-o de enfraquecer o governo hindu por suas requisições de que a Índia cedesse recursos financeiros ao Paquistão. Os desentendimentos entre os hindus e muçulmanos que se seguiram provocaram guerras e hoje os dois países mantém constantes ameaças um contra o outro e disputam o território da fronteira conhecido como Cashimira. Se não houvesse religião todos seriam indianos e não haveria Paquistão (a separação foi para dar um estado aos muçulmanos, o que me traz a mente o nome Palestina). Se houvesse uma guerra entre indianos então teríamos uma guerra civil com motivação política. Mas como ocorreu, a disputa entre Paquistão e Índia é de origem puramente religiosa.

Curioso é que o próprio Gandhi usou a religião como uma ferramenta de manipulação da massa, ainda que com objetivos diferentes dos do Papa Pio II. Fechando essa questão não se encontra no artigo da Wikipedia sobre o Papa nenhuma única referência às cruzadas cristãs. Assim como no artigo sobre Deus um delírio, notamos uma tendência dos colaboradores de orientação católica da Wikipedia a escrever os artigos relacionados a assuntos religiosos de forma tendenciosa. E eu pensava que uma das formas de arrependermo-nos de nossos pecados seria começar por confessá-los.

O terceiro aspecto que demanda sua atenção é o de que não somos pessoas comuns porque decidimos nos manifestar a respeito de características da nossa sociedade que nos perturbam. Ainda que pareça banal que possamos hoje reclamar dos problemas de nossas vidas e sociedades a maioria das pessoas, ao menos no Brasil, parece fazer questão de ignorar essa possibilidade. Vejo todos à minha volta reclamarem de várias coisas, desde o preço do arroz até o valor de verba de gabinete de um deputado federal. E após terminar a reclamação essas pessoas vão ao mercado e compram arroz. Faria muito mais sentido para mim, que as pessoas organizassem seus vizinhos em uma mini-cooperativa e fossem a uma zona rural fechar um acordo de compra direta de arroz com uma cooperativa de produtores. Pelo efeito de oferta e demanda, com um número grande o bastante de pessoas fazendo isso, os preços do arroz no mercado baixariam. E se as compras fossem feitas sem notas fiscais, haveria um impacto fiscal nas contas do governo que chamaria a atenção de toda sociedade.

Mas em lugar de fazer algo as pessoas simplesmente ouvem alternativas como essa e diparam um rápido “não funciona” ou “isto é utópico”. Com relação ao “não funciona” posso dizer que não sabemos de verdade se funcionaria, não é? Não tentamos, nunca tentamos, mas sabemos que “não funciona”? Para mim, essa é a definição de brasileiro: alguém que nunca tentou fazer nada direito, mas já tentou fazer tudo errado, e que não quer mais discutir isso porque começou a novela das oito.

Já o “isto é utópico” remete a outro patamar de raciocínio. As coisas podem, em geral, ser definidas entre uma dupla de estados que são opostos e complementares. As coisas podem estar vivas ou mortas; ligadas ou desligadas; acesas ou apagadas; e boa parte de todos os estados intermediários podem, com alguma simplificação ser convertidos em um dos dois estados fundamentais, vamos assim dizer, das coisas. Ainda que um cachorro atropelado e agonizante esteja cortado ao meio no asfalto possa ser descrito como “meio vivo” ou “quase morto” ele está, de fato, tão vivo quando você e eu, presumivelmente. Da mesma forma que um eletrodoméstico queimado que não funcione estará ligado se o comutador estiver na posição ON. Essa simplificação de estados é a ideologia por trás da dualidade bem VS mal. Também é a força lógica motriz para o embate Javé VS Lúcifer, onde dizer deus VS diabo seria apenas aderir à substituição de marcas proposta pelo vaticano.

Essa dualidade de estados me interessa no momento porque a partir dela vou construir o fechamento do terceiro ponto. Se as soluções apresentadas para a maior parte dos problemas sociais que temos são, quase sempre, vistas como utópicas isto é um forte indício de que os problemas são, em sua essência, distópicos. Isso vale já que a maioria das pessoas poderia dizer que não gostaria de viver em um mundo onde haja fome e pobreza. Assim, fome e pobreza são dois típicos exemplos de problemas distópicos ou de um mundo distópico. Com efeito lógico, se uma solução é utópica provavelmente o problema é distópico. Ou, para um problema distópico a melhor solução será, eventualmente, utópica.

O que se deseja demonstrar é que ao se deparar com uma solução aparentemente utópica, a maioria das pessoas desiste de tentar, enquanto deveriam de fato ir adiante. Pois a forma mais adequada de resolver um problema distópico é, provavelmente, por uma solução utópica. Por utópica não entenda perfeita, pois não existe nada perfeito (esse é outro bom argumento lógico para a inexistência de deuses); entenda “cuja realização traria a perfeição”. De outra forma, ao tentar resolver o problema do preço do arroz no mercado local, um grupo de pessoas deveria buscar resolver o preço do arroz no mundo, desenhando uma solução definitiva que resolvesse o problema de forma global. Ao tentar solucionar o problema eles não estariam achando uma resposta global e definitiva, mas teriam mais chances de chegar perto disso do que olhando para a TV às oito da noite.

Em outra escala, não nos vejo buscando soluções para nossos problemas cotidianos. Vejo-nos acomodados com a forma como o mundo como é. E não deveríamos ter nenhum motivo para isso, pois estamos vivendo em uma distopia. Ao escrever 1984 Orwell quis dar um recado à humanidade de que estávamos caminhando para uma distopia cruel onde os humanos escravizaram uns aos outros pelo poder. Huxley com seu Admirável Mundo Novo já o fizera antes e até serviu, dizem, de inspiração para Orwell. Acho que pensar isso é inocência demais. Pensar que estamos caminhando para uma distopia é insípido demais. Já estamos em uma distopia, onde humanos escravizaram outros humanos pelo poder.

Essa constatação é a quarta forma pela qual nos diferenciamos dos outros. Entendemos que o mundo já é distópico, ou seja, já é o lugar no qual nossos piores pesadelos ocorrem. Fome, guerra, doenças, violência, discriminação, todas essas coisas existem e são extremamente presentes. E são problemas sem solução aparente. Que continuarão existindo pelos próximos 50 ou 100 anos porque ninguém está fazendo nada de concreto para saná-los. Em primeira instância porque ninguém está considerando soluções utópicas seriamente. Em segunda instância por que não interessa a um grupo de pessoas que esses problemas sejam resolvidos.

Fundamentalmente salientei que este blog é um projeto para disseminar idéias e uma visão do mundo. Enquanto a visão do mundo que será apresentada é realmente um tanto quanto sombria, por retratar um mundo doente e habitado por uma sociedade conturbada, as idéias são formas de tentar resolver esses problemas estruturais que irão impedir a humanidade de atingir seu máximo. Alguém tem que fazer alguma coisa e as pessoas precisam começar por algum lugar.

Uma idéia já foi colocada, evite atravessadores e suporte o pequeno produtor. Isso pode reduzir os preços dos alimentos no mercado das cidades e criar uma distribuição de renda mais justa no campo. Não resolve o problema, mas é um começo. E eu acho que consigo ouvir você pensar que isso é apenas uma utopia enquanto olha para a televisão.